A
literatura a respeito da Análise Comportamental é pouco
lida e raramente compreendida no Brasil, embora no resto do mundo
esta abordagem encontre-se em pleno crescimento.
A Análise Comportamental procura conhecer e compreender o ser humano e, através deste conheci mento, tomar consciência das problemáticas psicológicas que os indivíduos vivenciam.
A Análise Comportamental procura conhecer e compreender o ser humano e, através deste conheci mento, tomar consciência das problemáticas psicológicas que os indivíduos vivenciam.
O
maior e mais persistente dos erros parece ser o de considerar a Análise
Comportamental e suas teorias (aprendizagem, motivaçäo,
personalidade, cogniçäo e outras) como uma ciência
que explica o comportamento humano apenas como um conjunto de respostas
a estímulos, considerando o homem como um autômato ou
boneco, ignorando a consciência e os estados mentais.
Isto
definitivamente näo é verdadeiro. A Análise Comportamental
näo propöe um tratamento sintomatológico ou mecanicista,
uma vez que esta abordagem baseia-se no modelo bio-sócio-psicológico,
que elimina o conceito tradicional de "doença subjacente"
e mesmo o conceito de sintomas através do qual esta "doença"
se manifestaria. Ela propöe, isto sim, um tratamento das queixas
apresentadas (solidäo, stress, depressäo, insegurança,
etc) e dos mecanismos psicológicos funcionalmente envolvidos
com o desenvolvimento e manutençäo das problemáticas
apresentadas.
Para
a abordagem Comportamental as Teorias de Aprendizagem säo de
fundamental importância, na medida em que, vários fatos
demonstram que tanto os sentimentos quanto os pensamentos e comportamentos
humanos säo aprendidos. Citando um destes fatos, a título
de exemplo, veja-se o ocorrido na França, na virada deste século:
Uma criança que havia sido abandonada à própria sorte, foi encontrada viva, em uma floresta próxima a um pequeno vilarejo. Esta criança, por algum "milagre" sobreviveu, porém näo como um homem, apesar de ser fisicamente um ser humano, mas como um animal. Caminhava com os quatro membros, vivia em um buraco no chäo, näo tinha nenhuma linguagem, näo conhecia nenhum relacionamento, näo se preocupava com ninguém, nem com nada, a näo ser com a própria sobrevivênca.
O que este caso demonstra é o fato de que, se o homem cresce
como um animal, agirá e reagirá como um animal, pois o
homem "aprende" a ser humano. E deste modo, como ele aprende
a ser humano, também aprende a sentir, amar, pensar e raciocinar
como um ser humano o que, em outras palavras, significa afirmar que
o meio é fundamental ao seu desenvolvimento. E, como o "filhote
do homem", é o animal mais facilmente domesticável,
pelo fato de na sua "primeira infância", ser totalmente
dependente dos adultos que o "criam" e do meio em que vive,
näo sendo capaz de sobreviver por si só (salvo raras excessöes,
como o exemplo acima), tais fatos o tornam fortemente vulnerável
e desta forma, muito suscetível às mensagens alheias.
As
Teorias Comportamentais näo deveriam ser vistas como inimigas da
liberdade humana, muito ao contrário, pois se näo é
possível impedirmos que o ambiente "determine" o desenvolvimento
de nossas emoçöes, motivaçöes, pensamentos e
comportamentos, por outro lado, é essencial à emancipaçäo
do homem em relaçäo à estas "estruturas"
(familia, escola, igreja, sociedade, etc) que ele adquira consciência
de como se desenvolvem essas açöes (destas estruturas) determinantes
do seu comportamento, caracterizando a própria experiência
de "ser", ou seja, possibilitando-lhe que assuma a direçäo
do próprio destino, a partir de seu autoconhecimento.
A
Análise Comportamental entende que o núcleo de toda neurose
é a ansiedade. O mêdo, eis o grande inimigo do homem. A
insegurança dele consequente conduz a total vulnerabilidade,
fazendo com que o homem viva de forma contrária ao seu instinto
de sobrevivência, falhando em obter aquilo que deseja e levando-o
a fazer o que näo quer.
As
consequências disto säo: a solidäo, a depressäo,
as fobias, os distúrbios psicossomáticos, as disfunçöes
sexuais e outras, que levam à infelicidade.
O
homem começa, desde a infância, a aprender que "aprender"
é sinônimo de esquecer de si mesmo e absorver os valores
do ambiente em que vive, internalizando desejos e necessidades que näo
lhe säo próprios, como por exemplo, a de ser amado por todos.
Isto o leva a viver um processo interior de mêdo de ser abandonado,
rejeitado, ridicularizado, de magoar ou ser magoado pelos outros e,
o comportamento, que seria a expressäo dos valores interiores,
näo mais o representa.
Durante
todo este longo processo de "aprendizagem" o homem vai perdendo
o contato com o seu "eu real", buscando sempre um "eu
ideal". Vai seguindo a vida acompanhado de um sentimento de incapacidade
e incoerência, daí, o conflito, caracterizando a falta
de "Assertividade", ou seja, o näo exercício de
ser o que se é, numa clara ausência de auto-estima. Assertividade
pode ser entendida como a coerência entre o agir e o sentir.
É
importante enfatizar que as crianças säo bem mais assertivas.
Elas dizem que "gostam de você", com a mesma naturalidade
que dizem "näo gosto de você". É a sociedade
com seus conceitos e regras arbitrárias que reprime esta naturalidade,
gerando mêdo, culpa e raiva.
A
sociedade nos dita regras de "certo e errado" e avalia as
pessoas em escalas de "melhor e pior". Assim, "adultos
säo melhores que crianças", "patröes melhores
que empregados", "homens melhores que mulheres", "brancos
melhores que negros", "professores melhores que alunos",
"vencedores melhores que perdedores" e assim por diante, valorizando
muito mais o "fazer o que esperam ou o que näo esperam de
mim". Introjetam-se, entäo, cobranças e expectativas,
desenvolvendo no indivíduo, a tal busca do "eu ideal",
que terminam por saber o "que näo säo capazes",
näo tendo entretanto, a exata consciência, do "que säo
capazes", desvalorizando o que há de realmente importante
nele: a ternura, o encantamento, a sensibilidade, a alegria, o romantismo,
a poesia, o amor e muito mais.
Para
a Análise Comportamental, desenvolver a percepçäo
de si é a chave do problema. Trata-se de mudar o processo näo
assertivo, de modo que o indivíduo exerça todo seu potencial
de reflexäo e questionamento sobre suas atitudes e emoçöes.
Recomeçar, transformar os conceitos de "certo e errado".
Certo e errado para quem ? Só o indivíduo pode ser o juiz
final para determinar o que é certo ou errado para ele, de modo
que descubra do que é capaz, gostando mais de si mesmo.
O
objetivo deste processo terapêutico é, portanto, possibilitar
que, a partir do desenvovlimento desta auto-estima, de um maior respeito
próprio, novos sentimentos possam ser expressados e percebidos
por si e pelo outro, logrando um tratamento diferente por parte do "mundo",
que näo o da ameaça ou imposiçäo unilateral
de seus "conceitos e regras de comportamento".
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